Realização, pedagogia, criação e exibição de audiovisual.

domingo, 27 de março de 2011

Entrevista Exclusiva com Karol Schittini.


Nasceu em Coronel Fabriciano, interior de Minas Gerais. Criada descalça com pomar no quintal. As margaridas, seus pais e vizinhos eram o público até os 11 anos, quando subiu no palco pela primeira vez. Dança, recita poesia, faz acrobacias e escreve em qualquer lugar.

Karol Schittini fotografada por Alexandra Arakawa - 2010.
Cinema Possível  – Fale um pouco da sua Trajetória como atriz.
Karol Schittini – Fiz a Julieta na escola como atividade extra-curricular, uma adaptação para crianças, eu tinha 09 anos. Aí não parei mais. Comecei com o diretor Ricardo Maia. O grupo iniciou com 20 pessoas e estreiou com 4. Percebi que seria assim, instável para o resto da vida! Aos 10 anos, conheci mitos gregos e um pouco de História do Teatro e fiquei maravilhada com o Rito. Aos 11, subi no palco e circulei com a peça. Aos 12, vi a Fernanda Montenegro em cena. Não dormi naquela noite e voltei na seguinte, pois a classificação era 16 anos. Aos 13, li pela primeira vez a triologia do Stanislaksvi, depois segui com Grotowski, Boal e Brecht. Estes últimos, que levaram minha arte pra rua. E as fichas foram caindo ao longo dos anos... Aí fui querendo e fazendo teatro sempre. Fiz infantis, dramas, absurdos, comédias e tragédias.
Há dez anos, nasceu a Palhaça Cor Iza, quando comecei a desenvolver e ministrar a Oficina de Dramatização Infantil. O Peter Brook e o teatro oriental conheci na academia, na Graduação em Artes Cênicas/ UFMG. Depois vim para o Rio de Janeiro e estudei na Escola de Teatro Martins Pena.
Já tinha feito danças clássicas, e veio o Flamenco, dança indiana e as danças populares brasileiras. E Butoh, e o circo. Além da música, minha companheira.
É que tudo foi cabendo dentro do teatro...
O teatro pra mim é ação. Sentimento, emoção, catarse e reflexão; brotam do agir.

CP – O que o teatro pode modificar na vida de uma pessoa?
KS - Pode abrir um infinito leque de possibilidades de ver, ouvir e movimentar-se no mundo. Ele propõe a libertação dos medos, dos tabus e das convenções pré-estabelecidas e impostas; ensina o poder de crer, acreditar e realizar, porque habita no Vale Fértil da Criação Eterna.

Cor Iza, personagem de Karol Schittini, palhaça, que já tem 10 anos de
existência.
CP – Quais os filmes que você viu e gostaria de compartilhar com os
entusiastas do projeto Cinema Possível?
KS - Almodóvar, sem palavras.
Sou amante do Bergman.
Tem um documentário sobre Pierre Verger, com Gilberto Gil.
Cisne Negro, que está em cartaz, tem um roteiro bem elaborado.

CP – O que você tem feito atualmente relacionado a cinema e teatro?
KS - Atuo no repertório do Teatro Trupiniquim desde 2009 e nossa atual montagem é Cordel do Amor sem Fim, texto de Cláudia Barral.
Tem na boca do forno o monólogo Residência no Redemoinho, inspirado na obra do Guimarães e Neruda.
A Palhaça Cor Iza está distribuindo cores e flores por aí, nas ruas, livrarias e museus com brincadeiras populares e números de circo.
O curta “O Sol Manchado de Vermelho”, onde faço uma participação, está circulando em alguns cines e festivais.
Cena do filme Universo Caio, realização do projeto
Cinema Possível - 2008

CP – Fale um pouco de literatura. O que você lê, leu e gostaria de ler?
KS - Eu aprendi que escrever é todo dia, igual comer e dormir. E ler também. Literatura é uma via de mão dupla. Uma frase qualquer, uma palavra, qualquer coisa é a poesia do dia. Até desenhar significa escrever... E ainda tem exercício da Literatura Oral, contando histórias e ouvindo os causos de qualquer pessoa.
Agora leio mitologia e lenda africana, como estudo individual da formação da oralidade brasileira. Na cabeceira tem Pessoa, Guimarães, Florbela Espanca, Galeano, Neruda, Clarice Pinkola, a Bíbila, medicina e poesia oriental.
Conheci o Rimbaud através de Iluminações, uma estadia no inferno. Ótimo!
Vivo catando os poetas/escritores brasileiros... de todas as épocas; e sou fascinada pelo estudo dos ritos e religiões do mundo.
A Filosofia faz um alinhavo de vez em quando.
Separo sempre escritos de algum meu amigo para apreciar.
Leio dramaturgia, mas demoro mais, porque ela vai se encenando na minha cabeça, as primeiras impressões já tomam autônoma forma.
Não gosto de Machado de Assis, me cansa. Hahahahaha, pronto falei!

CP - Como foi a experiência de fazer um filme com o projeto Cinema Possível? O que isso acrescentou à sua vida artística?
KS - Foi uma porta aberta, como um clique, um estalo, a realização no agora, sem melindres. Eu já amava o cinema. Os caminhos vão se cruzando em perspectivas. Sou muito grata à vida por ter me transversalizado com o Jiddu, junto ao Cinema Possível. Ainda mais experimentando de cara o Caio Fernando Abreu.
Tenho aprendido no Cinema Possível o tempo do cinema, enquadrar naturalmente a ação, fazer boas coisas com boas ideias e perceber que não é a qualidade do equipamento que determina, mas a qualidade da mente e intencionalidade do roteiro, além de “saber quando, como e de onde olhar” e isso abriu caminhos para outras produções.

CP – Quem é Karol Schittini por Karol Schittini?
KS - A melhor sensação do mundo é a de desaparecer, emprestar a própria matéria para comunicar. Eu amo o teatro.
Clique e assista nosso filme com a atriz
Karol Schittini.



Visite o site do coletivo TRUPINIQUIM clique AQUI
Saiba mais sobre a peça premiada "O Cordel do Amor sem Fim" AQUI

domingo, 13 de março de 2011

ENTREVISTA COM DALMO SARAIVA

Dalmo Saraiva, nascido em Angra dos Reis, poeta e brincante. Seu livro "URUBU", já esgotado, teve um dos poemas filmado pelo projeto Cinema Possível, em 2009. Neste entrevista vamos conhecer um artista que não é apenas poeta, mas que fez de sua vida um poema.


Dalmo Saraiva e seu personagem:
Sô da Mamãe.


Cinema Possível - Porque lidar com poesia? Não seria melhor fazer outra coisa? Faz sentido esta vida?
Dalmo Saraiva - Poesia? Eu não lido com ela não. Talvez ela é que me instiga... que me maltrata... que me faz chorar de vez em quando... que me faz rir... que me faz irônico... que me deixa perplexo diante da vida... que abusa de mim (esse corpo cansado e suado de tanto rodar o mundo)... O meu amigo Milton Aguiar tem uma frase que eu sempre uso e que acho o máximo: "poesia dá asas mas também dá azia". E aí? eu gosto mais das asas onde posso voar embora meus textos incomodem um pouco... mas confesso... confesso... deixa prá lá! Hoje ainda não cometi pecados... Lidar com outra coisa? Sim, eu lido com outra coisa mas a outra coisa nunca me dá uma lida. Sim! Faz sentido esta vida sim. Aliás, esta vida não é máximo? Você que lida com ela poeticamente e mimicamente não acha o máximo? Ixe!

CP - Mas não só lidar como também gostar, vejo que você tem um certo amor por Antônio Nóbrega, Denise Stoklos, Zé Ramalho. Quem mais?
DS - Rapaz! você consegue deixar meus olhos cheios d’água... espera aí! Deixa eu respirar. Tenho sim, Jiddu! Tenho um amor por Antonio Nóbrega sim... tenho uma profunda admiração pelo trabalho dele e pela pessoa que é. E além de tudo é um grande amigo além de ter sido meu professor. É pena que eu sempre fico em segunda época com grandes professores como ele. Mas é sempre bom
ficar em segunda época para que eu aprenda mais.... Para mim cada espetáculo do Antonio Nóbrega é sempre uma aula. Na verdade
vi todos diversas vezes... acho que o verdadeiro brasileiro deveria
conhecer o "Tonheta" e parar de ficar vendo a novela das oito.
A Denise Stoklos é a essência da essência. É o Teatro Essencial.
Aquele que eu gosto... aquele que busca e faz pensar... O Zé Ramalho? Eu me identifico com o pau de arara... com
o brejeiro... acho ele um profeta e quem ouve "Cidades e Lendas" se remete para distante buscando histórias e estórias... Quem mais? São tantos. O professor Ivan Proença é um deles. Ele é um dos responsáveis pela minha in- vestida no teatro de rua, no texto literário, na poesia, na cultura brasileira, na música regional, na música
dos repentistas, nos cantadores. Um outro é o Julinho Pimentel... uma figura extraordinária que me ensinou muitas coisas... São muitos, Jiddu! São muitos. Até os índios Carajás de Aruanã, em Goiás, me ensinaram e eu fiquei fã deles... Se eu pudesse e não posso, queria encontrar Guimarães Rosa... queria encontrar Euclides da Cunha.... Queria encontrar Mário de Andrade... queria encontrar Câmara Cascudo... são muitos...

CP - Você nasceu lá pras Bandas de Angra dos Reis, estive lá, me pareceu um dos lugares mais bonitos do Brasil, e a Usina Nuclear?
O Reinado de Dalmo Saraiva e seu personagem
Sô da Mamãe.
DS -  Sim! Nasci na cidade de Raul Pompéia. Aliás, na cidade não. Nasci no mato. Nasci no município de Lopes Trovão e Brasil dos Reis... Lá é um dos lugares mais bonitos do mundo. É pena que perdeu a característica de cidade colonial. Seus governantes não tiveram a sensibilidade de preservação da história. Lá ia ser
fundada a cidade do Rio de Janeiro. Lá surgiram os primeiros teatros do Brasil. Engraçado! e ninguém sabe mas está nos livros. Com sete ou oito anos fui morar em Tarituba, em Paraty e lá comecei o meu primeiro dia de escola. Paraty está preservada até hoje e a sua história atrai turistas do mundo inteiro e Angra dos Reis está deitada ao lado do Rio do Choro reclamando as mágoas por causa de homens sem raízes. A Usina Nuclear? Aquilo lá é a peste do século XXI. Já participei de diversos movimentos contra aquela praga mas aquele estopim não está cercada só de granadinhas de urânio...


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"Dalmo Saraiva tinha e tem razão, o flagelo nuclear continua"!

Os acidentes nucleares do Japão são lições 
para o mundo inteiro.
É hora ou já passou a hora de revermos o
que fizeram em Angra dos Reis onde colocaram
os estopins chamados Angra I e Angra II.
 E agora?
“Eles” que eram “CONTRA” Angra I e II,
aprovaram a construção e estão construindo
mais uma MALDITA chamada Angra III.
Plano de evacuação?
Vamos evacuar! Vamos evacuar!
SÓ SE FOR DE DIARRÉIA.

(Dalmo Saraiva)

O Drama do Césio 137, a contaminação nuclear 
no Brasil - Veja o vídeo.


CP - O que acontece nos recitais de poesia, há algum magnetismo?
DS - Você sempre aparece, gostam de você. É bom ser gostado?
Magnetismo? Não sei não! Não sou de aço. Sou de pedra. Tenho Saraiva e Rocha no nome e o que é do nome o bicho come.

CP - Você demonstrava estar feliz, de bem com a vida. Dá pra estar de bem com a vida?
DS - De bem com a vida? Não! É a vida que está de bem comigo. Jiddu, a vida é uma séria brincadeira e a brincadeira da vida é muito séria. Deu para responder? A vida é muito boa, meu caro! Você sabe disso!

CP – Porque o seu livro se chama "Urubu"? O que você tem contra as garças brancas?
DS - Eu não tenho nada contra as garças brancas não. Eu fundei a Sociedade Protetora dos Urubus.
É um bicho preto da alma pura (se tiver). Eu admiro o seu misterioso
olhar e seu vôo... é um dos seres mais ecológico no mundo... E tem mais: eu queria ele (o livro) todo negro e isso vinha me criando dificiculdades a nível financeiro mas a Thereza (Editora
Ibiz Libis) falou que isso não  era problema. Acreditei. Eu tenho que acreditar, pois também já andei lá pelo ACRE e tive contatos com os urubus. É preciso ACRE ditar. Eu ACRE dito.
Mas não é só os urubus que tenho admiração não. Tenho admiração por todos. O nosso humor vem dos macacos e a nossa graça vem da garça. É preciso preservar os homens para que possamos valorizar os
animais.


CP - Quem é Dalmo Saraiva por Dalmo Saraiva?
DS - Jiddu! acima de tudo, nos conhecemos há bastante tempo e na verdade não sei muito bem quem eu sou. Ainda estou me procurando e quando penso que me achei, aí, eu escapo de mim mesmo. Eu participei de um workshop há algum tempo com uma pessoa sensacional que se chama Jorge e numa parte desse evento maravilhoso, cada um vai falar de si. Eu dizia na roda de pessoas (mais ou menos trinta) que eu era dois mas ainda existia um  terceiro... estou delirando? Acredito que não e até fico chateado comigo mesmo quando me taxam de maluco. Coisa que não sou.... apenas sou um experimentalista... um ousado... um irrequieto... um ser amigo dos criadores com quem aprendo e descubro uma parte de minha pessoa... essa pessoa que quando criança pulava as cercas dos circos poeiras na minha cidade para assistir as simples cenas dos palhaços pobres materialmente, porém ricos espiritualmente... é isso... e não pode ser aquilo.

Urubu, um filme do projeto
Cinema Possível a partir do
poema de Dalmo Saraiva.



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